A gestão das pessoas nas organizações deve se fundamentar em um modelo coerente, sistêmico e integrado que engloba noções de diversas escolas de pensamento administrativo. Agregado a isto, e mais do que nunca, buscar constantemente adequar seus conceitos e desdobramentos aos novos cenários que se apresentam em meio as mudanças constantes.
Para alcançar essa proposta, é preciso admitir que qualquer ação eficaz, mesmo em grandes empresas muito automatizadas, ocorre por meio das pessoas. À medida que se caminha para um mundo de equipes de trabalho autogeridas, a maneira como se lida com as pessoas deve ser adaptável a essa tendência. Em uma organização comprometida com a tarefa de melhorar constantemente seu desempenho, as equipes representam instrumento fundamental para a excelência gerencial.
Nesse contexto, a participação das pessoas em todos os aspectos do trabalho destaca-se como um elemento indispensável para obtenção da sinergia dentro das equipes.
A diversidade de pessoas com competências distintas forma equipes de alto desempenho quando lhes é permitida autonomia para alcançarem metas definidas de comum acordo e quando estão cientes do que se espera delas em função da missão, da visão, dos valores, das estratégias e das políticas básicas da organização em que atuam.
A gestão de pessoas é balizada pela presença de profissionais de diversas profissões, com seus interesses corporativos, com várias especializações e diferentes reconhecimentos sociais. O sucesso dessas organizações depende cada vez mais de conhecimento, habilidades, criatividade e motivação das pessoas que nelas trabalham.
O sucesso das pessoas por sua vez depende cada vez mais de oportunidades para aprender e pertencer a um ambiente favorável ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades. São as pessoas que neles trabalham que as diferenciam entre si.
Em um mundo competitivo são as pessoas que criam novas condições para a empresa, adaptando-a e flexibilizando-a conforme as necessidades do meio ambiente. A empresa depende de pessoas para formar a sua força de trabalho, sem a qual ela nada produzirá, e das pessoas que constituem o mercado comprador dos seus serviços oferecidos.
Esforços para humanizar fora de um contexto gerencial que crie condições para isso são pouco eficazes; recomenda-se concentrar esforços em desenvolver um modelo de gestão sistêmico, coerente, integrado e que promova condições para que a gestão humanizada aconteça naturalmente, não artificialmente. É muito comum falar sobre a valorização das pessoas sem que essa intenção venha acompanhada de ações concretas. A valorização seria o substrato conceitual e filosófico sobre o qual se construiria a gestão das pessoas dentro da organização: os fundamentos da gestão de pessoas.
O discurso da valorização das pessoas é o politicamente correto, e ninguém ousa contradizê-lo, porém atuar de acordo com ele nem sempre é o que se vê na prática. A maioria das organizações se vangloria, em público, de que “as pessoas são o maior capital que a empresa tem”, mas as ações praticadas nem sempre se coadunam com essa afirmação, assim como também levanta suspeita designar as pessoas como “capital”. É preciso deixar a hipocrisia de lado quando se trata de fazer boa gestão de pessoas, pois logo se percebem as falhas nos processos. A valorização das pessoas deve levar em consideração a diversidade de anseios e necessidades que, uma vez identificados e utilizados na definição das estratégias, dos planos e das práticas de gestão, promovem o desenvolvimento, o bem-estar e a satisfação delas.
Valorizar as pessoas significa permitir que elas desenvolvam seu potencial humano e profissional dentro da empresa, a fim de que possam realizar-se integralmente como pessoas e profissionais. Valorizar as pessoas não pode ser retórica vazia de sentido e intenção.
O gestor que pensa estar demonstrando valorização das pessoas ao dizer que “desce ao chão da fábrica” para interagir com seus subordinados pensa que está fazendo manifestação eloquente de gestão participativa e demonstrando apreço e valorização pelos funcionários. Na verdade, ao dizer que “desce” ao chão de fábrica, o gestor já está deixando claro a diferença que existe entre ele e seus subordinados, que estariam abaixo do nível dele. Por sua magnanimidade, ele concede “descer ao chão de fábrica” para conversar com aqueles que estão “abaixo” dele.
Portanto, valorizar as pessoas deve ser mais do que discursos vazios e desprovidos de sentido; não há lugar para hipocrisia na gestão de pessoas. As organizações são um ponto de encontro, nas quais, ademais da busca por sua sobrevivência, as pessoas reúnem-se para fazer coisas juntas, que, de outra maneira, não conseguiriam realizar sozinhas. As pessoas não são recursos, elas têm recursos (conhecimentos, capacidade, habilidades e experiências), o que fundamenta a ideia de que os “recursos humanos” de ontem são os novos talentos de hoje, com competências e valores.
Não são as instituições que têm as pessoas, mas são as pessoas que fazem as instituições.
Texto adaptado por Patrícia Pessoa Pousa, co autora do livro “ Gestão de Pessoas em Saúde” com Haino Burmester, Claudia Maria Figueiredo Matias e Maria Aparecida Novaes, Editora Saraiva.